Album Cover Ooorra

Ooorra

Emicida

9

Direto eu vejo o pai brincando com filho no parque, sinto inveja

Fico me perguntando "Tio, o quê que a vida fez comigo?"

Sorrio pelos pivetes, acho da horaOlho pra baixo, eu tenho mó vontade de chorar, mas não consigo

Em segundos me vem vinte e poucos dia dos pais

"Guarda o presente, fi, ele já não volta mais"

Arrasta a cartolina com papel crepom

Amassa, joga no lixo - Porra, pior que esse aqui tava bom

Hoje, fico olhando na espreita

Vendo os muleques aí, com pai e mãe do lado, não respeita

Deviam ser por um dia o que eu sou há trinta ano

Pra vê se cês ia tá na de trocar a coroa pelos mano

Não sei se dá tristeza ou ódio

Não conseguir lembrar de você sóbrio

Eu não vi as vadia nem seus aliado

Com o doutor no corredor implorando pelo o que há de mais sagrado

Eu já passei fome, já apanhei calado

Já me senti sozinho, já perdi uns aliado

Eu já dormi na rua, fui desacreditado

Já vi a morte perto, um cano engatilhado

Eu já fugi dos homi, bati nos arrombado

Quase morri de frio, eu já roubei mercado

Já invejei quem tem pai, já perdi um bocado

Eu sofri por amor, eu já vi quase tudo, chegado!

E memo assim tive que penar pra aprender

Que minha mãe não ía poder tá lá pra me ver crescer

Tinha que trabalhar pra ter o que comer

Não ver seu filho aprende a falar, essa porra deve doer

Guentar as madame mandar, ter que acatar

Aê, ouvir teu bairro sussurrar - "Cê sabe, mãe solteira é o que?"

Ver seu tempo acabar, sua chance morrer

E no fim do mês ganhar o que não dava pra sobreviver

Me ensinou a não desistir, rapaz

Miséria é foda, só que eu ainda sou bem mais

Madeirite furado, cigarro, cheiro de pinga

Olha onde eu cresci! Onde nem erva-daninha vinga!

Como cê vai sonhar com pódio

Se amor é luxo e com a grana que nois tem só dá pra ter ódio?

Coisas da vida, história repetida, algo assim

Com quatro anos assistindo o mundo inteiro contra mim

Eu já passei fome, já apanhei calado

Já me senti sozinho, já perdi uns aliado

Eu já dormi na rua, fui desacreditado

Já vi a morte perto, um cano engatilhado

Eu já fugi dos homi, bati nos arrombado

Quase morri de frio, eu já roubei mercado

Já invejei quem tem pai, já perdi um bocado

Eu sofri por amor, eu já vi quase tudo, chegado!

E o que eu sempre tive foi minha rima

O resto se foi tipo trampo, amigo, mina

Eu nunca quis viver disso, nunca nem sonhei com isso

Eu tava acostumado cantar por hobby e trampar por uns trocado

E eu ía pro crime, irmão

Se não fosse a confiança do Pedro e do Felipão

Sem dinheiro, já dava pa ver o fim

Mas um me levou pra Liga e o outro fez as base pra mim

Na fé, me pôs no lugar onde vários quer nome

Foda-se todos, eu não quero mais passar fome

Amo isso, você é contribuinte

Assim ó, escrever como quem vai morrer no dia seguinte

Vagabundo pirou nos flow, a cada ideia ouvia "Hoow!"

Quando vi o radinho tocou, gente querendo show

E agora eu vou fazer virar com os meus

É real, o menino do morro virou Deus!

Eu quase me perdi nas ilusão

Fui salvo, por ter sabedoria e pé no chão

Chamei uns de irmão, quando nóis era sócio

Pensei ter feito amigo e tava fazendo negócio

Eu odeio vender algo que é tão meu

Mas se alguém vai ganhar grana com essa porra, então que seja eu

E os que não quer dinheiro, mano

É porque nunca viu a barriga roncar mais alto do que eu te amo

Eu vi minha mãe me jogar dentro do guarda-roupa trancado

Era o lugar mais seguro quando a chuva levou o telhado

E dizia "Não se preocupa, chuva é normal"

Já vi o pior disso aqui, vê o bom hoje é natural

E o justo, então antes de criticar quem cê vê trampar

Cala boca e pensa em quantas história cê tem pra contar

Falar que ao dizer "A Rua é Nóiz" pago de dono da rua

Desculpa, eu vivo isso e a incerteza é sua!

Se você não se sente dono dela, shiu, não fode!

E antes de escrever um rap me liga e pergunta se pode

Se você não se sente dono dela, shiu, não fode!

E antes de escrever um rap me liga e pergunta se pode